O craque Kaká enlouquece
as meninas com sua carinha de anjo, seu
sorriso maroto e um brilhante futebol
Parecia quase impossível, mas há agora algo em comum entre são-paulinas, corintianas e palmeirenses. Aos 20 anos, Ricardo Izecson dos Santos Leite, o Kaká, virou ídolo de todas as torcidas. Bem, pelo menos da ala feminina. Sua carinha de anjo e seu sorriso maroto conquistaram principalmente as adolescentes. "Qualquer menina sonha encontrar um príncipe encantado, um namorado que tenha um pouco de Kaká", afirma a atriz Sthefany Brito, de 15 anos, a Samira de O Clone. O caçula da seleção brasileira pentacampeã mundial provoca tumulto, choradeira e histeria aonde quer que vá. No mês passado, viajou com os pais para a Riviera de São Lourenço, no litoral norte, e precisou da ajuda de seguranças para conseguir comer uma pizza com os amigos. Depois de dar dezenas de autógrafos, jantou cercado por um cordão de homens fortes, que impediam a aproximação dos curiosos. Na saída, foi seguido de carro até o condomínio onde estava hospedado. Algumas meninas ficaram horas de prontidão esperando que ele aparecesse. "Não pude sequer ir à praia", conta Kaká. Se é pego desprevenido, elas atacam: agarram, beliscam, puxam o cabelo... "Uma vez arrancaram minha corrente de ouro do pescoço", diz ele.
Na Copa do Mundo, Kaká saiu do banco de reservas por apenas vinte minutos, durante o jogo contra a Costa Rica. Não fez muito, mas seu prestígio foi às alturas. Enquanto estava do outro lado do mundo, cerca de 1.500 cartas e cinqüenta ursinhos de pelúcia foram enviados por suas fãs ao Centro de Treinamento do São Paulo. Hoje, quando sai às ruas, tenta disfarçar-se usando óculos de grau. Ele tem 2 graus de miopia. Antes da fama, a vaidade falava mais alto e o xodó das menininhas só andava com lentes de contato. Outra medida de precaução foi instalar insulfilm nos vidros do carro. Mesmo assim, quando pára nos faróis com seu Golf prata, sempre encontra um ambulante que o reconhece e pede autógrafo. Dias atrás, na confeitaria Cristallo da Rua Oscar Freire, foi abordado por cinco pessoas. Entre elas estava o empresário Sérgio Kalil, sócio dos restaurantes Ritz e Spot, que lhe deu dois guardanapos de papel para assinar. Seria um presente para seus sobrinhos são-paulinos. "Ele tem cara de gente boa. É o máximo!", empolgou-se Kalil.
A agenda do jogador vive lotada. Em julho, fechou contrato como garoto-propaganda do guaraná Antarctica. Entre uma partida e outra, é cada vez mais requisitado para apresentar shows, participar de desfiles e comparecer a festas beneficentes. "Ele não tem tempo mais para me visitar, mas continua o grande companheiro de sempre", diz a amiga Marta D'Ambrosio, de 19 anos, que estudou a seu lado no ensino médio do Colégio Objetivo. No clube, o assédio crescente começa a provocar uma certa preocupação. "Isso pode acabar atrapalhando seu desempenho", acredita o técnico Oswaldo de Oliveira. "É um exagero."Kaká é mesmo o craque da hora. Tem habilidade, reconhecimento dos torcedores e carisma. Seu perfil é bem diferente do da maioria dos jogadores de futebol. Ao contrário de grande parte de seus colegas, ele não tem origem humilde. Fi maioria dos jogadores de futebol. Ao contrário de grande parte de seus colegas, ele não tem origem humilde. Filho de família de classe média, concluiu o 2º grau e pretende cursar uma faculdade. Hesita entre a de educação física e a de administração. O pai, Bosco Izecson Pereira Leite, é engenheiro e a mãe, Simone, professora. Seu irmão caçula, Rodrigo, de 16 anos, sonha seguir a mesma carreira de jogador. Kaká nasceu em Brasília e veio para São Paulo com os pais quando tinha 7 anos. Foram morar no bairro de Perdizes. "Na primeira semana de aula no Colégio Batista Brasileiro, o professor de educação física me chamou e disse que eu deveria colocar o Kaká em uma escolinha de futebol", lembra sua mãe, que seguiu de imediato o conselho. Quando se mudaram para o apartamento de três dormitórios no Morumbi em que vivem até hoje, compraram um título para freqüentar o São Paulo Futebol Clube. Foi lá que o pequeno Kaká começou jogando, como sócio, na categoria fraldinha.
"As coisas estão acontecendo rápido demais na vida de meu filho", diz Simone. Em pouco mais de um ano como profissional, recebeu quatro aumentos. Seu salário pulou de uma ajuda de custo de 700 reais para 80.000 reais (que entrega para seu pai administrar). Tem contrato com o clube até 2005 e seu passe está avaliado em 20 milhões de reais. Com toda essa dinheirama, ele evita extravagâncias. Mas usa roupas de grifes como M. Officer e Giorgio Armani. No armário, guarda mais de vinte pares de tênis. Em seu cada vez mais raro tempo livre, gosta de andar de kart e jogar videogame. Costuma jantar com o irmão no restaurante Ecco, no Itaim, e encontrar os amigos no bar Montecristo, na Vila Olímpia. No meio dos jogadores, ganhou fama de pão-duro. "Ele não trouxe nem uma lembrancinha para mim do Japão", reclama o meia Júlio Baptista, seu melhor amigo no São Paulo. "Não comprei presente para ninguém porque eu não queria ser barrado na alfândega", desculpa-se Kaká.
Às terças e quintas à noite – se não está concentrado –, vai ao culto da Igreja Renascer em Cristo, no Cambuci, uma espécie de versão para a classe média da Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. Evangélico desde criança, Kaká é um devoto fervoroso, que procura seguir à risca as regras de sua religião. Dá 10% do salário para a igreja, usa uma pulseira com a inscrição "Jesus" e pediu à Adidas que produzisse uma chuteira sob encomenda, com a mensagem "Deus é fiel" gravada. "Recebi muitas bênçãos na minha vida", afirma. A mais importante, segundo ele, foi ter escapado ileso de um acidente em que correu o risco de ficar paraplégico, há dois anos. Kaká passava as férias em Goiânia, na casa da avó, quando resolveu escorregar de cabeça no toboágua de um parque. Bateu a coluna cervical no fundo da piscina. Ficou dois meses em tratamento, sem poder jogar. Na época, era reserva dos juniores do São Paulo. Ao recuperar-se, foi promovido a reserva do time profissional. "O clube já estava de olho no menino", diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros.
Apesar de atrair olhares ávidos das jovens, Kaká admite que pretende deixar o sexo para depois do casamento. Ainda assim, mostra uma pontinha de dúvida sobre se irá conseguir resistir à tentação. "Quero entender melhor por que os jovens devem, de acordo com a igreja, esperar tanto para ter a primeira relação sexual", afirma. Namorou por quatro meses a modelo catarinense Elizabeth Perfoll. Romperam às vésperas da Copa do Mundo. "Ele é incrível, do tipo que quer casar e ter família", diz Elizabeth. Solteiríssimo, ele não faz segredo de que adoraria conhecer a apresentadora Fernanda Lima. Seu interesse não é correspondido. "Não quero nem ouvir falar nisso", desconversa Fernanda, irritada com os recados que, volta e meia, ele lhe manda pela imprensa.
Kaká submete-se a um pesado trabalho de preparação física para compensar um atraso em seu desenvolvimento ósseo. Aos 15 anos, pesava 50 quilos e tinha 1,63 metro. Os médicos do clube constataram que, como atleta, precisaria ganhar peso e altura. Passou então por uma dieta rica em carboidratos e creatina, um aminoácido que fornece energia quase instantânea aos músculos. O tratamento foi facilitado porque ele adora doces, principalmente a musse de sorvete de chocolate e a torta de limão feitas pela mãe, e um bom churrasco. Hoje, está com 76 quilos e 1,85 metro. Quando pára de treinar, no entanto, perde 1 quilo de massa muscular em uma semana. "Aprendi a lidar com minhas deficiências", explica. Em campo, procura evitar o choque físico com os adversários. "Como é mais fácil de ser desequilibrado no corpo-a-corpo, ele se desloca muito mais que os outros jogadores", relata Wellington Valquer, analista de desempenho do São Paulo. A boa notícia é que Kaká não chegou ao auge de sua forma física. Com o treinamento, pode ganhar mais 5 quilos de massa muscular. O que, com certeza, vai render mais gritinhos e suspiros da torcida feminina.
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